Ao Senhor, Aos Santos e ao Mundo
Luciano Subirá
Nosso
ponto de partida na reflexão acerca dos três ministérios da igreja começa com a
igreja em Antioquia:
“Ora, na
igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão, chamado
Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. Enquanto
eles ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo:
Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então,
depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram. Estes,
pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para
Chipre”. (At 13.1-4)
Vemos
três níveis distintos de ministério sendo exercido pelos irmãos da igreja em
Antioquia. Observe:
1)
Ministravam ao Senhor;
2)
Ministravam uns aos outros (o que vemos na ministração profética);
3)
Ministravam aos perdidos (o que vemos na viagem missionária).
A
maioria dos crentes em Jesus foi treinada desde o início de sua conversão a
colocar o evangelismo (ministério ao mundo) como a prioridade número um da
igreja. Ouvimos que esta é a tarefa número um da Igreja, que todos os esforços,
sacrifício e dedicação devem se dirigir a este ministério. Mas o que
encontramos na igreja em Antioquia, é este tipo de ministério vindo depois de
outros dois. E o que quero expor neste capítulo, é que esta é a ordem bíblica
dos ministérios da Igreja. Veremos o ministério aos perdidos aparecendo depois
dos dois primeiros não por não ter importância, mas pelo fato de que se torna
mais eficaz quando vêm como uma consequência dos demais.
Cada
crente isoladamente, bem como a Igreja coletivamente, deve entender que não há
nada mais importante do que ministrar ao Senhor. Fomos criados para isto, para
ter comunhão com Deus! É certo que o problema do pecado, com a queda de Adão,
atrapalhou isto, mas este era o propósito desde o início. E a salvação
oferecida pelo Pai Celeste não é um fim em si mesma, mas a maneira de nos
devolver ao propósito primário da comunhão e intimidade consigo mesmo.
A obra
da cruz visa reconciliar o homem com Deus para que este possa ministrar ao
Senhor. O evangelismo é o meio de trazer o homem para Deus, e devemos
realiza-lo. Mas a adoração que este homem (agora convertido) oferece a Deus é o
verdadeiro propósito de tudo.
Temos
invertido nossas prioridades! Só porque o evangelismo seja o ponto de partida
ao lidarmos com o perdido, não quer dizer que seja tudo, ou que tenha um fim em
si mesmo, mas é a forma de reaproximar o homem e Deus. Mas o relacionamento
entre ambos está acima do evangelismo em si.
Observe
isto no ensino de Jesus:
“Aproximou-se
dele um dos escribas que o ouvira discutir e, percebendo que lhes havia
respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
Respondeu-lhe Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único
Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua
alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo é este:
Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que
esses.” (Mc 12.30,31)
Toda a
lei se resume em dois mandamentos:
1) Amar
a Deus;
2) Amar
aos homens.
Podemos
destacar aqui o amor vertical (do homem para com Deus) que vem primeiro, antes
de qualquer outra coisa em nossas vidas. Depois, vemos o amor horizontal (para
com os homens) aparecendo. De modo semelhante podemos afirmar que o ministério
ao Senhor vem antes do ministério aos homens.
Mas
também vemos neste texto que o ministério aos homens se subdivide em outros
dois: “ao teu próximo como a ti mesmo”. O amor que expressamos para outros está
relacionado ao amor que expressamos para nós mesmos. Quem não se ama não irá
amar aos outros! E de modo semelhante, o ministério aos homens também se
subdivide em dois: aos de dentro e aos de fora:
1)
Ministério aos santos;
2)
Ministério ao mundo (aos perdidos).
A
princípio, foi um choque para mim tentar colocar o crente na frente do
não-crente em nossas prioridades ministeriais. Acho que isto é algo semelhante
ao sentimento que temos nas instruções de segurança antes da decolagem dos
aviões; quando a aeromoça explica que em caso de despressurização da aeronave,
máscaras cairão sobre os assentos e que devemos primeiro coloca-las em nós
mesmos para depois coloca-las nas crianças, parece injusto. A primeira
impressão que temos é a de que devemos mais atenção às crianças do que a nós
mesmos, mas o fato é que se não estivermos em boas condições para continuarmos
ajudando depois, as próprias crianças perderão com isto!
Há
textos bíblicos que são muito claros em colocar o crente na frente do
não-crente na prioridade de ministério:
“Então,
enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos
domésticos da fé”. (Gl 6.10)
Este
versículo está nos dizendo que primeiro devemos fazer o bem aos que são da
família da fé, para depois fazermos o bem aos não-convertidos. Esta é a regra.
Já
percebi na minha própria vida e na de muitos outros a quem tenho pastoreado uma
verdade: quando temos algum problema com os irmãos, seja por feridas ou
desentendimentos, nossa produtividade no Reino sofre uma queda considerável.
Não nos sentimos animados em trazer pessoas novas para um ambiente que estamos
considerando hostil. É por isso que precisamos ministrar primeiro a nós mesmos
para depois ministrarmos os de fora.
Alguns
cristãos não concordam com esta ideia sob hipótese alguma. Parecem reconhecer
como amados de Deus somente os perdidos; mas ninguém deixa de ser amado por
Deus porque já se converteu! Esta pessoa ainda precisa de nosso cuidado e, em
nossas escala de prioridades, deverá estar à frente daquela que ainda não se
converteu. Nossa desatenção e desamor aos novos-convertidos podem pôr todo
trabalho anterior a perder; é por isso que Paulo escreveu: “Não faças perecer…
aquele por quem Cristo morreu” (Rm 14.15).
Uma
igreja que não se ama a ponto de ministrar aos seus, não expressará amor
genuíno aos de fora! Pode até mostrar produtividade e capacidade de alcançar
metas, mas da mesma forma que com o amor ao próximo, o ministério também começa
pelo lado de dentro.
Esta é
uma ordem que Deus mesmo estabeleceu. Ele em primeiro lugar, e os santos em
segundo. O ministério aos perdidos não é, necessariamente, o último, e sim a
consequência dos dois primeiros ministérios sendo bem exercidos.
Tenho
observado que toda igreja que tem os dois primeiros ministérios como ênfase,
não terá dificuldade para ter resultados no exercício do ministério aos
perdidos. Porém, muitos que tentam começar (ou mesmo se limitar) no ministério
aos perdidos acabam não sendo tão bem-sucedidos quanto aqueles que agem de modo
correto.
Este é
um princípio bíblico, de modo que esta figura pode ser encontrada até mesmo nos
textos do Velho Testamento:
“No ano da
morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e
as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada
um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com
duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o
Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar
se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu:
ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de
um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!
Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que
tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que
ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado.
Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir
por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6.1-8)
Nesta
visão de Isaías encontramos em ordem progressiva os três ministérios :
1)
Ministério ao Senhor (visto na adoração dos serafins);
2)
Ministério aos santos (visto na edificação pessoal de Isaías – o toque da
brasa);
3)
Ministério ao mundo (visto no apelo que Deus faz e ao qual o profeta responde).
Deus, em
sua soberania, deixou ilustrações destas três expressões de ministérios em toda
a Escritura. Veja, por exemplo, o que aconteceu no dia de Pentecostes:
1) Os
discípulos estavam no Cenáculo orando (At 1.14) – o que é uma expressão de
ministério ao Senhor;
2) Então
Deus corresponde e ministra aos santos o enchimento do Espírito Santo (At
2.1-4);
3) E a
consequência final é que milhares foram salvos – o exercício do ministério ao
mundo (At 2.37-41).
No
ministério ao Senhor, a oração, juntamente com a adoração, vem sempre em
primeiro lugar. No entanto, quantas ouvi dizer que o período de louvor era
meramente a “preparação para a palavra”! Sou um pregador da Palavra de Deus,
mas reconheço que isto está classificado na segunda expressão de ministério
(aos santos – quando os ensinamos) ou mesma na terceira (aos incrédulos –
quando os evangelizamos). Porém a adoração vem em primeiro lugar. E não visa
preparar o coração de ninguém, e sim ministrar ao coração de Deus. Igrejas
adoradoras provarão mais do poder de Deus do que qualquer outra, pois quando
nos achegamos a Deus, Ele também se achega a nós (Tg 4.8).
E a
oração também deve ser assim destacada:
“Exorto,
pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de
graça por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade,
para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda piedade e
honestidade. Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso salvador, o qual
deseja que todos se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. (1Tm
2.1-4)
Quando
Paulo escreve a Timóteo, manda que antes de tudo (clara indicação de
prioridade) se faça a prática de orações; isto fala de ministério ao Senhor. O
resultado disto fará com os santos sejam ministrados por Deus com uma vida
mansa e tranquila, e os ajudará a cumprir sua grande comissão: “…o qual deseja
que todos se salvem”.
Muitas
vezes programamos todo o culto com a preocupação de atingir o não-crente, e
acredito que devemos pensar neles e que certas práticas nossas que fazem
sentido quando estamos só entre cristãos não devam ser usadas quando temos
não-crentes nos visitando, como o falar em línguas, por exemplo (1 Co
14.23-25). Contudo, nossa ênfase da reunião semanal precisa ser voltada para o
ministério ao Senhor e não somente para os perdidos.
Deus
está chamando seu povo a uma clara consciência destes três níveis de
ministério. Portanto, devemos reorganizar nossas práticas e valores,
ajustando-nos ao modelo bíblico.
Fonte:
orvalho.com
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